segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Meditação Vipassana


Aqui compartilho humildemente minha experiência com essa técnica de meditação. Venho percebendo que cada vez mais pessoas tem aderido e está cada vez mais popular, e assim como certamente também as outras pessoas, com um misto de curiosidade e busca espiritual, fui pra lá me aventurar.

Fiz agora no Reveillon, e tinham mais umas 90 pessoas comigo, entre homens e mulheres. Achei louvável tantas pessoas reunidas, abdicando de suas vidas por 11 dias numa data tão festiva, estarem lá, dispostas a ficarem sem falar com ninguém, sentadas por 10 horas diárias, e com uma alimentação bem leve. O negócio deve ser bom pensei eu.

No primeiro dia conhecemos as pessoas, somos levadas aos quartos, separados dos homens, e as 19h teria início o voto do silêncio. Opa, e lá vamos nós ficar quietos. E assim, a primeira palestra da técnica se incicia.
Eu tentei todos os dias fazer um registro mental do que tinha sentido a cada dia pra poder compartilhar com vocês as sensações, mas a partir do quarto, quinto dia eu já não lembrava mais de nada. Tentava lembrar do que eu senti no primeiro dia e só conseguia me conectar com o que sentia naquele momento. E como não podíamos escrever, pra mim ficou um pouco impossível relatar dia após dia cada milímetro de sensação.
Mas foi mais ou menos assim:

Dia da chegada: olá pessoas, vamos ficar quietas, e a palestra de apresentação. Somado ao cansaço da minha jornada de quase 12 horas pra chegar até lá, confesso que não assimilei muita coisa e só pensava em dormir. E fomos, as 9h.

Dia 1: As 4 da manhã, toca o sino em nossa porta e 4h30 devemos estar na sala para começãr a por em pratica a técnica. Sentamos nos nossos lugares definidos, e vamo que vamo, 2 horas de meditacao, intervalo, mais 2 horas, intervalo mais 3 horas...e por assim vai. Vi que o negócio ali ia ser pesado.

Dia 2: chorei, chorei, chorei. Quero ir embora, o que eu to fazendo aqui, putaqueopariu Marcela que ideia de girico, vc podia estar na praia, podia estar com seu namorado, podia estar feliz e está aqui, com essa galera que vc nunca viu na vida, parada sem falar com ninguém, que infelicidade.

Dia 3: Meu corpo ja estava bem cansado, mas a minha mente estava muito, muito consciente. Parecia que tinha aberto um espaço dentro da minha cabeça, um vazio e não tinha nada pra preencher. Na minha mente só tinha espaço, espaço, espaço...achei que nem ia conseguir dormir de tão ligadona que eu tava. Sempre à noite havia umas palestras muito legais, que falavam de vipassana, contavam histórias da India, do Buda, e esse era o meu momento de deleite a noite. Onde eu ouvia alguém falar por uma hora e pensava, tá tudo bem. E por mais que estivesse cansada, as palestras me deixavam reflentindo bastante e bem lucida.

Daí pra frente, não lembro mais tanta coisa. A técnica de vipassana, só é mesmo apresentada no dia 4, e eu sei que lá pelo dia 6, eu tive uma experiência muito forte, senti coisas boas e horriveis no meu corpo ao mesmo tempo, fugi da sala de meditação e fui pro meu quarto achando que ia morrer. A gerente da ala feminina veio atrás de mim e perguntou se estava tudo bem. Disse que sim, que estava muito cansada e assim passei todo o dia experienciado uma parte de mim, umas memórias que me deixavam meio mal, meio estranha, mas que pelo que entendi faziam parte da técnica.

A partir daí tb não lembro detalhadamente, mas o cansaço físico estava cada vez maior, minha bunda doía muito, e eu não tinha mais posição pra sentar. Lá eles não permitem que vc pratiquem técnicas corporais, no máximo um alongamentozinho, mas era tamanha a minha dor que eu fugia uns minutis pro quarto e fazia algumas posturas. Precisava alongar aquele bumbum minha gente, porque senão eu ia pirar. Mas segui estritamente as regras, não fiz nenhuma prática corporal e mental, nao cantei mantra, nao entooei o Om, ficava só na tecnica vipassana, mesmo porque nao tinha-se tempo, nem espaço pra fazer nada além disso. E o tempinho livre dos intervalos, eu só pensava em comer e dormir.

Confesso que a alimentacao leve e só duas frutinhas as 5 da tarde e nada más, me deixaram com fome, mas foi essencial para meditar. De barriga cheia, cheia de gases, desconforto, fica impossível sentar por tantas horas e nao pensar na própria pança. Foi bom, e hoje já nao consigo comer tanto. Perdi 3 quilos.

Basicamente, e bem sucintamente a tecnica, é se observar. Pois sabemos de muitas teorias sobre a vida, estudamos muito as filosofias e ensinamentos, mas o tchan da vipassana é : de nada adianta intelectualizar oconhecimento se você não experenciar.

Como você vai entender a impermanência se você não souber no seu corpo o que é a impermanência. Se não perceber que aquela dor insuportável que você está sentido é impermanente, ou ainda que aqueles pensamentos horrorosos são impermanentes. E isso eu achei muito muito legal. Porque depois de um tempo você começa a dissecar a dor, a observar a dor, e percebe que ela está só no seu corpo e não na sua mente. O observador tá sempre ali e não é afetado, e que daí você passa a ter uma relação diferente com você mesmo.

Eles falam muito na equanimidade também. Não se apegue a nada, nao crie avidez ou aversao, nem pelo que é bom, nem pelo que é ruim, já que tudo é impermanente, tudo, absolutamente tudo vai passar. E daí você treina, no seu corpo,  a perceber isso.
Confesso que achei bem radical por serem tantas horas sentados, sem nenhuma prática corporal, mas entendi que ali o corpo é seu instrumento e que a dor é seu professor.

No fim, aprendermos a parte final da técnica, onde se busca gerar amor por todos os seres, criar compaixão por todos. Afinal, todos estão também mergulhados no sofrimento. E quando voce inicia essa jornada, quando você se melhora,  naturalmente, melhora o mundo a sua volta. E daí você consegue compartilhar o seu conhecimento, as suas experiencias, promovendo crescimento.

Pra mim, as sensações foram tantas e tão contraditórias que ainda está dificil se adaptar ao barulho da cidade, as pessoas, mas é uma coisa muito sutil. As pessoas acham que você pode sair de lá maluca, meio desnorteada, e acho que sim, isso pode acontecer. Eu mesmo nao tinha ideia da minha reação. Mas quando acabei o voto de silencio desembestei a falar e a rir que nem uma louca, e tinha criado na mente que talvez saisse de lá meio monja, meio asceta, pregando a verdade para a humanidade

Hoje eu entendo que a meditação vai promovendo mudanças sutis, internas, ela vai cuidando dos seus pensamentos com carinho e nao necessariamente você mude sua personalidade por isso. Eu continuo alegre, sorridente, faladora, e consigo observar todas as mudancas internas, e toda a felicidade que vem sendo descoberta como minha fonte natural de abundancia. E me respeito como sou, dentro dessa moldura corporal que interajo com o mundo.

Meu sentimento é de amor, gratidão e saí de lá querendo abraçar e apertar meio mundo. Querendo contato, querendo viver a minha vida normalmente, só espalhando minhas sutis vibrações em quem quer se seja. 

Que todos os seres sejam felizes!!! que todos possam compartilhar da luz!!

:)




















1 comentário:

  1. amei
    deve ter sido uma experiêcia e tanto, mas confesso que não tenho esta sua força, garra e resistência.
    Desejo um lindo e iluminado ano !
    bjs

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